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Sarau Poético – Texto 10: Pela janela da alma

Naiana Gomes da Silva

Pela janela da alma[1]

Hoje à tarde, em meio às responsabilidades de trabalho, olho pela janela do escritório e vejo as nuvens e, nelas, imagens que vão se dissipando ou se transformando conforme o movimento dos ventos. Meu olhar capta histórias, as minhas histórias que se traduzem nas diferentes formas em que as nuvens nos seus movimentos me possibilitam revisitar.

Quando eu era criança, imaginava histórias a partir dessas formas, eu ficava deitada na calçada da rua de baixo da minha casa por um tempo que não sei precisar e, logo elas se refaziam, tomando outras formas e, assim, as histórias continuavam.  Eram histórias com diferentes cenários, contavam sobre o medo e a alegria, sobre aventuras, o desbravamento do mundo, de como eu gostaria que fosse a minha vida naquele momento e no meu futuro, entre monstros e heróis, sempre havia um final feliz…

Hoje, observei dois rostos, olhando para o infinito azul do céu… Rostos em posições opostas, cada um olhando para um lugar que não se sabe, será que estão procurando alguma coisa? Sinto que sim.  O que vejo é a distância entre os dois, olhares que não se encontram, suponho que, o que procuram está, mas além deles. Um dos rostos se dissipa pelo vento ficando somente o outro olhando para o infinito. Esses olhos continuam a procurar… Agora ele está de lado, cresceu um pouco o nariz e se definiu mais a boca. Parece que muda a direção de onde está olhando e para onde olha… Ainda não encontrou o que procurava… 

A beleza de olhar as nuvens é para mim um mundo de possibilidades, de busca de sentido para nos olharmos e ressignificarmos as nossas histórias, permitindo-nos acessar dentro de nós os mais belos percursos para contá-las. Esse mundo de formas permite criar e recriar qualquer história, a história até agora, pode não ser a mais feliz, pode-se pensar que ela não terá um final feliz, mas é em uma história sustentada pelo encontro com o nosso desejo que poderá se produzir um final com mais sentido. 

Estar diante do encontro consigo mesmo produz novas formas de olhar para a nossa história, pois podemos descobrir outras saídas para os finais que não nos parecem os mais felizes. Os olhos precisam estar atentos para não deixar escapar o melhor lugar onde sua alma pode ser livre, para continuar a olhar e criar as mais belas histórias, mesmo àquelas, onde você se encontra na sua própria solidão. 


[1] Trabalho apresentado em 23/01/2023 no Sarau Poético do Salpêtrière Psicanalítico.

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