Hoje à tarde, em meio às responsabilidades de trabalho, olho pela janela do escritório e
vejo as nuvens e, nelas imagens que vão se dissipando ou se transformando conforme o
movimento dos ventos. Meu olhar capta histórias, as minhas histórias que se traduzem
nas diferentes formas em que as nuvens nos seus movimentos me possibilitam revisitar.
Quando eu era criança, imaginava histórias a partir dessas formas, eu ficava deitada na
calçada da rua de baixo da minha casa por um tempo que não sei precisar e, logo elas se
dissipavam ou tomavam outras formas e, assim, as histórias continuavam. Eram
histórias com diferentes cenários, contavam sobre o medo e a alegria, sobre aventuras, o
desbravamento do mundo, de como eu gostaria que fosse a minha vida naquele
momento e no meu futuro, entre monstros e heróis, sempre havia um final feliz…
Hoje, observei dois rostos, olhando para o infinito azul do céu… Rostos em posições
opostas, cada um olhando para um lugar que não se sabe, será que estão procurando
alguma coisa? Sinto que sim. O que vejo é a distância entre os dois, olhares que não se
encontram, suponho que, o que procuram está, mas além deles. Um dos rostos se dissipa
pelo vento ficando somente o outro olhando para o infinito. Esses olhos continuam a
procurar… Agora ele está de lado, cresceu um pouco o nariz e se definiu mais a boca.
Parece que muda a direção de onde está olhando e para onde olha… Ainda não
encontrou o que procurava…
A beleza de olhar as nuvens é para mim um mundo de possibilidades, de busca de
sentido para nos olharmos e ressignificarmos as nossas histórias, permitindo-nos acessar
dentro de nós os mais belos percursos para contá-las. Esse mundo de formas permite
criar e recriar qualquer história, a história até agora, pode não ser a mais feliz, pode-se
pensar que ela não terá um final feliz, mas é em uma história sustentada pelo encontro
com o nosso desejo que poderá se produzir um final com mais sentido.
Estar diante do encontro consigo mesmo produz novas formas de olhar para a nossa
história, pois podemos descobrir outras saídas para os finais que não nos parecem os
mais felizes. Os olhos precisam estar atentos para não deixar escapar o melhor lugar
onde sua alma pode ser livre, para continuar a olhar e criar as mais belas histórias,
mesmo àquelas, onde você se encontra na sua própria solidão.
Naiana Gomes da Silva
23 de janeiro de 2023
